Pedestre razão lusitana, 2024
Instalação / vídeo HD, cor, áudio estéreo, 105’ em loop, e esculturas em algodão e esponja.
Trabalho presente na exposição coletiva “Amostra 24”, no NowHere, Lisboa, com curadoria de Cristiana Tejo. Resultado do laboratório de práticas artísticas orientado pela artista Luiza Baldan, com colaborações de Rafael Moretti, Victor Gonçalves e Nico Espinoza.
Vídeoinstalação composta por um vídeo com um plano fixo, sem cortes, do passar das nuvens, uma série de almofadas com formas de pedras e o som do quotidiano. O céu é uma representação simbólica da passagem do tempo que, por estar em loop, torna-se imagem da eternidade e contrasta com a linearidade do pensamento ocidental. Entre o céu e a terra, entre um tempo mítico e um histórico, reforçado pelo audio do quotidiano que pode ser escutado nuns fones. Escuta-se a rotina do avô do Filipe. O público podia assistir ao vídeo instalado no teto do espaço expositivo, deitado sobre as almofadas-pedras.
O historiador Sérgio Buarque de Holanda reconhece nos escritos quinhentistas portugueses sobre o Novo Mundo, dos quais a carta de Caminha é um bom exemplo, uma “pedestre razão lusitana” (1). Nada mais que o meio pelo qual ainda se justifica, moralmente, o imperialismo português. O filósofo Eduardo Lourenço, com o fim da ditadura de António Salazar, testemunhou a inversão da tradicional imagem racionalista portuguesa e seu nacionalismo místico de um dia para o outro, como se fosse um pesadelo. E sem a devida elaboração, são imagens que tendem a retornar e assombrar-nos no futuro.
1. Holanda, Sergio Buarque. Visão do Paraíso. São Paulo: Brasiliense, 1996 (1959), p.123.